domingo, 14 de abril de 2013

Fundació Tàpies























Junto com uma quantidade interminável de cartões de visita, guias e
fotos, estavam os papéis que fui acumulando em minhas visitas
à Fundació Tàpies.

Há muito tempo quero escrever a respeito deste museu,
um dos meus preferidos em Barcelona. Mas precisei por um bom
tempo deixar fechadas as minhas lembranças da Espanha.

A morte do artista, há pouco mais de um ano, fez com que abrisse
minha caixa de recordações e voltasse à Catalunha, onde ele nasceu
e passou grande parte da sua vida. Nesta época comecei a escrever
este post, que só agora finalizo.

Tàpies nasceu na Barcelona dos anos 20. Autodidata, suas obras
rapidamente se espalharam pelo mundo, já nos primeiros anos de
sua produção. Sua pintura matérica, com espessas camadas de tinta
são uma expressão de liberdade nos anos da ditadura de Franco
(1936-1975). Palavras, frases e signos se misturam à manchas
amareladas, volumes de areia e pó de mármore. Dramáticas,
elas carregam sofrimento, dor, silêncio.

A Fundação, criada pelo artista nos anos 80, é voltada para o estudo
e divulgação da arte contemporânea. Sua biblioteca é uma das mais
completas em publicações do assunto. E, além de expôr pinturas,
desenhos e esculturas de Tàpies, a Fundação organiza exposições
temporárias de artistas contemporâneos do mundo todo.

O edifício, antes ocupado por uma importante editora catalã, foi
projetado pelo arquiteto modernista Lluís Domènech i Montaner,
o mesmo do Palácio da Música Catalã, no final do século XIX.
Hoje um enorme emaranhado de fios metálicos, desenhado pelo
artista, coroa o edifício.

terça-feira, 27 de março de 2012

Wolfgang Tillmans no MAM










Hoje inaugura no MAM a exposição do artista alemão Wolfgang Tillmans
um aficcionado pelas constelações e sequências matemáticas.
Tillmans propõe uma nova maneira de expôr suas fotos, em diferentes 
tamanhos e em diferentes suportes. Imagens de naturezas mortas, de seu 
cotidiano. Imagens banais que em conjunto ganham força e poesia.  

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

MuBE Museu Brasileiro da Escultura



Fotos Nelson Kon






































¨A discussão política é sugerida pelo traço poético da arquitetura, através 
da emoção e das possibilidades de construção do espaço.¨[1]


Desde sua construção, em 1988, o Mube é circundado por um fluxo intenso 
de automóveis que passam diariamente pela Avenida Europa, importante 
eixo viário da cidade, e por grandes casarões do Jardim Europa.
Ele nasce como uma resposta do arquiteto Paulo Mendes da Rocha ao 
entorno e ao caos urbano. 

Nascido em Vitória, no fim dos anos 20, Paulo formou-se no Mackenzie. 
Desde seus primeiros projetos, estruturas racionais, em concreto 
armado aparente, vencendo grandes vãos, é clara a influência das obras 
da ideologia de Vilanova Artigas e do modernismo.

Mas, além das questões formais, sua atitude arquitetônica se destaca 
pela abordagem do território da cidade como o lugar das relações 
humanas, como dispositivo para a existência em coletividade. 

Ao projetar o MuBE, Paulo
 parte de um gesto essencial, de uma ideia 
antiga de abrigo, para criar, entre o fora e o dentro, a praça, uma 
continuação da cidade. Como uma paisagem modelada, o edifício afirma
o caráter urbano da área e contrasta radicalmente com o que está 
ao seu redor. Desafia os limites do lote e se impõe como uma área de 
respiro, um alargamento das calçadas.

Porém, apesar de Paulo articular muito bem o volume principal e aproveitar 
as diferenças de nível do terreno, as grades que o circundam delimitam 
uma barreira física que interrompe a continuidade entre a calçada e a 
esplanada, entre o público e o privado, enfraquecendo o seu caráter de 
museu praça. 

Praça esta que, além de abrigar exposições de esculturas ao ar livre, deveria 
ser, assim como o vão livre do MASP, um lugar cívico e político. 
Um lugar para o encontro, em contraposição às mansões muradas do bairro 
jardim que o circunda. esplanada externa, que deveria funcionar como uma 
espécie de ágora, um lugar de exposição das pluralidades, um palco de 
ações e palavras, hoje, apesar de sua potência, não cumpre plenamente 
o papel a que se propõe. 

Além de um grande gesto arquitetônico, o MuBE é um gesto político. 
Traz em sua essência a vocação de reequilibrar a relação entre público 
privado. Porém, gradeado, com guaritas de segurança e sem a 
livre passagem, existe a praça do povo?







"Quero moldar o espaço com espírito delicado e artesanal. 
Porém estou disposto a penetrar neste espaço utilizando violência".

Assim como Paulo Mendes, no projeto do Chichu Art Museumlocalizado 
na ilha de Naoshima, o japonês Tadao Ando radicaliza ao optar por 
submergir todo o volume do seu edifício abaixo da terra.

Assim como no Mube, existe a continuidade da paisagem, um 
horizonte amplo e infinito, onde o museu desaparece e o que ganha 
destaque é a arte em seu interior. Sua arquitetura, ao 
mesmo tempo silenciosa, deixa uma marca no terreno e naqueles 
que a visitam.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Sesc Belenzinho







Há pouco mais de um ano foi inaugurado o SESC Belenzinho, uma das mais
novas unidades da rede. Os antigos galpões de tecido, que funcionavam como
sede provisória, foram demolidos e no lugar foi erguido um edifício com 
projeto do arquiteto Ricardo Chahin. A eficiência energética e a preservação do 
meio ambiente é um dos diferenciais da unidade.

O Belenzinho, como é conhecido, foi sede de duas das melhores mostras do ano: 
Panoramas do Sul e Olafur Eliasson, seu corpo da obra. Ambas fazem parte 
da programação do 17 Festival Video Brasil, um festival internacional de arte 
contemporânea. 

A mostra Panoramas do Sul foi composta por um conjunto de obras realizadas 
em diversos suportes e meios por artistas nacionais e internacionais. Entre
instalações, pinturas, esculturas e vídeos, as obras foram divididas pela equipe 
de curadores, que tem como curadora Geral, Solange Farkas,  em quatro recortes: 
Cartografias do Afeto, Natureza e Cultura, Paisagens Políticas e Mecanismos 
Geradores.

Solange tem quase 30 anos de estrada como curadora e é responsável pela 
criação e direção deste festival que a cada ano ganha mais visibilidade. Como 
diretora do MAM da Bahia, cargo que ocupou por alguns anos, ela conseguiu 
reerguer o museu e realizar uma reforma no edifício histórico que,  na década 
çde 60, passou por uma intervenção de Lina Bo Bardi.   

A mostra Panoramas do Sul terminou no começo de dezembro, mas ainda 
dá tempo de ver as obras do artista dinamarquês Olafur Eliasson, 
que, além do SESC Belenzinho ocupam o Sesc Pompéia e a Pinacoteca 
do Estado.

Olafur é conhecido por suas grandes instalações, que brincam com a 
percepção sensorial, com as noções de tempo e espaço, e esta é a primeira vez 
que o artista realiza uma mostra individual no Brasil e na América Latina. 

O tema do corpo e sua relação com o espaço e entorno estão no centro 
deste conjunto de obras expostas em São Paulo. Sugerindo que o espaço é 
um catalisador de comportamentos e atitudes e que o envolvimento do 
público possibilita a sua existência.




No Brasil da virada dos anos 50 Hélio Oiticica dilui o suporte 
artístico e trabalha o corpo na cidade, uma cidade viva, pulsante. 
Preocupado em catalisar a criatividade de outras pessoas, Oiticica 
proclama a diferença e a diversidade. Seu trabalho constrói a 
ideia do corpo com liberdade espaço-temporal, aberto a novas
experimentações. 

Seus “Parangolés” de 1964 são capas, estandartes ou bandeiras 
coloridas de algodão ou náilon, com poemas, para serem vestidas 
ou carregadas por um ator/espectador. Com eles, o artista cria a 
metáfora do corpo livre, em oposição à exclusão, fruto da 
desigualdade sócio-econômica, e à censura gerada pela violência 
da repressão militar. 

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Casa de Chá Restaurante Boa Nova


































É difícil acreditar que a Casa de Chá- Restaurante 
Boa Nova é uma das primeiras obras de Álvaro Siza.
Construída sobre rochas, o arquiteto soube, como poucos, enquadrar
o mar. Sua sensibilidade à luz, ao entorno, e o seu tectonismo, aspectos
tão celebrados em suas obras, já estão aqui.

Quem lhe deu a chance de mostrar tudo o que sabia foi Távora, (grande
arquiteto português) que ganhou o concurso para a construção deste
restaurante e passou o projeto para Siza, um jovem colaborador de seu
ateliê.

Logo na entrada, uma escada dá acesso ao restaurante
e à casa de chá, dispostos lado a lado. Do seu último degrau, uma faixa
panorâmica dá vista ao oceano em uma das aberturas mais bonitas que já vi.

Além de sua arquitetura, grande parte dos seus móveis e objetos foram
desenhados pelo arquiteto. Hoje, passados quase 50 anos, alguns
foram substituídos, mas muito do original foi preservado.

Vale ir pela arquitetura, pelo ambiente, para conhecer, mas também
pela comida, bem portuguesa. Bons peixes, boa carne e claro, boas batatas.






Curiosamente, em 63, ano da construção da Casa de Chá,
Jean Luc Godard gravava as cenas de ¨Le Mépris¨ uma de suas obras
maestras. Grande parte do filme, como as famosas cenas de
Brigitte Bardot tomando sol, se passa na Casa Malaparte, na ilha de Capri.
A casa também está construída sobre rochas, dá vista para o oceano e
é outra das minhas preferidas.

terça-feira, 7 de junho de 2011

Roteiro Toscana. San Gimignano

























Voltando à viagem que fiz à Toscana.

Partimos de Castellina para San Gimignano, uma cidade medieval murada,
das mais bonitas que já conheci. A vista da estrada, de suas torres e muralha,
é inesquecível.

A cidade é super pequena e um dia é mais do que suficiente para conhecer
tudo. Uma curiosidade sobre as torres: para afirmar o seu poder na cidade,
as grandes famílias brigavam para ver quem construía a torre mais
alta. Para você ver como o tempo passa e os homens não mudam muito...

Minha lembrança mais clara é de sua cor de terra. Lembro da textura do
piso e das paredes de tijolo marron, com flores nas janelas. A cidade é
charmosa, acolhedora, especial.

San Gimignano também tem bons restaurantes e cafés. Na Gelateria di Piazza
comi o sorvete que ganhou o prêmio de melhor do mundo. De fato é muito
bom, mas daí a ser o melhor do mundo, não sei, sou bem exigente quanto o
assunto é sorvete...












































Como cor, ou como matéria, a terra está presente na obra do catalão
Antoni Tàpies.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Koy Shunka








Acostumada com a enorme tradição da cozinha japonesa em São Paulo, 
morando fora sinto bastante falta das idas semanais ao japonês. 
Encontrar um bom restaurante, não foi das tarefas mais fáceis. 

Aqui em Barcelona uma boa opção no estilo dos rodízios paulistanos 
são uns japoneses enormes com buffet a preço fixo. Para almoçar vale a 
pena. Tem várias opções de legumes, peixes e carnes que eles preparam na 
chapa. Servem também sushi, sashimi, salada e pratos quentes. Eles costumam 
ser baratos e de qualidade.

Mas, para quem procura um japonês mais especial, com peixes, cortes e 
pratos diferentes, recomendo o Koy Shunka. Neste restaurante tudo é 
extremamente bem cuidado, da comida, a arquitetura, da louça, ao paninho 
de limpar as mãos que ¨cresce¨ com um pouco de água quente. Tudo no 
estilo japonês, discreto e preciso. 





Contrariando o que dizia dos japoneses, Araki é do tipo nada discreto.
Com exceção desta série com fotografias de sua mulher Yoko, ele 
choca com imagens de mulheres amarradas, animais, flores e comidas.