segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

MuBE Museu Brasileiro da Escultura



Fotos Nelson Kon






































¨A discussão política é sugerida pelo traço poético da arquitetura, através 
da emoção e das possibilidades de construção do espaço.¨[1]


Desde sua construção, em 1988, o Mube é circundado por um fluxo intenso 
de automóveis que passam diariamente pela Avenida Europa, importante 
eixo viário da cidade, e por grandes casarões do Jardim Europa.
Ele nasce como uma resposta do arquiteto Paulo Mendes da Rocha ao 
entorno e ao caos urbano. 

Nascido em Vitória, no fim dos anos 20, Paulo formou-se no Mackenzie. 
Desde seus primeiros projetos, estruturas racionais, em concreto 
armado aparente, vencendo grandes vãos, é clara a influência das obras 
da ideologia de Vilanova Artigas e do modernismo.

Mas, além das questões formais, sua atitude arquitetônica se destaca 
pela abordagem do território da cidade como o lugar das relações 
humanas, como dispositivo para a existência em coletividade. 

Ao projetar o MuBE, Paulo
 parte de um gesto essencial, de uma ideia 
antiga de abrigo, para criar, entre o fora e o dentro, a praça, uma 
continuação da cidade. Como uma paisagem modelada, o edifício afirma
o caráter urbano da área e contrasta radicalmente com o que está 
ao seu redor. Desafia os limites do lote e se impõe como uma área de 
respiro, um alargamento das calçadas.

Porém, apesar de Paulo articular muito bem o volume principal e aproveitar 
as diferenças de nível do terreno, as grades que o circundam delimitam 
uma barreira física que interrompe a continuidade entre a calçada e a 
esplanada, entre o público e o privado, enfraquecendo o seu caráter de 
museu praça. 

Praça esta que, além de abrigar exposições de esculturas ao ar livre, deveria 
ser, assim como o vão livre do MASP, um lugar cívico e político. 
Um lugar para o encontro, em contraposição às mansões muradas do bairro 
jardim que o circunda. esplanada externa, que deveria funcionar como uma 
espécie de ágora, um lugar de exposição das pluralidades, um palco de 
ações e palavras, hoje, apesar de sua potência, não cumpre plenamente 
o papel a que se propõe. 

Além de um grande gesto arquitetônico, o MuBE é um gesto político. 
Traz em sua essência a vocação de reequilibrar a relação entre público 
privado. Porém, gradeado, com guaritas de segurança e sem a 
livre passagem, existe a praça do povo?







"Quero moldar o espaço com espírito delicado e artesanal. 
Porém estou disposto a penetrar neste espaço utilizando violência".

Assim como Paulo Mendes, no projeto do Chichu Art Museumlocalizado 
na ilha de Naoshima, o japonês Tadao Ando radicaliza ao optar por 
submergir todo o volume do seu edifício abaixo da terra.

Assim como no Mube, existe a continuidade da paisagem, um 
horizonte amplo e infinito, onde o museu desaparece e o que ganha 
destaque é a arte em seu interior. Sua arquitetura, ao 
mesmo tempo silenciosa, deixa uma marca no terreno e naqueles 
que a visitam.